No dia 24 de julho, foi oficialmente anunciada a retomada do plano de implementação do campus IFRJ – Complexo do Alemão, causando grande comoção não somente àquela comunidade, mas à população carioca como um todo: os moradores do Alemão, finalmente, vão ter acesso à educação pública de ponta, tanto no ensino médio, quanto no superior. O SINTIFRJ, sabendo da intensa relevância da ação popular, incentivada, em muitos casos, pelas lideranças comunitárias locais, realizou uma entrevista, durante o 4º Festival de Comunicação Sindical e Popular, com David Amen, que é jornalista, comunicador popular, morador do Alemão, produtor e coordenador do Instituto Raízes em Movimento, que é um instituto que atua com ações socioculturais no Complexo. Leia a matéria e confira como ocorreu o anúncio e o que o comunicador disse na entrevista.
O anúncio da construção
O anúncio foi realizado pelo ministro da educação, Camilo Santana, em evento ocorrido na Nave do Conhecimento, equipamento público que tem cursos de tecnologia e comunicação, localizado na comunidade da Nova Brasília, uma das diversas que compõem o Complexo do Alemão. Também estiveram presentes na solenidade representantes governamentais como o prefeito da cidade do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, secretários ligados a ministérios e secretarias municipais, entes do legislativo federal, estadual e municipal, além de líderes comunitários do Alemão, assim como representantes do próprio IFRJ, alunos, reitor, seus pró-reitores e diretores-gerais de campi.
Tal medida se propõe a concretizar um compromisso firmado ainda sob o governo Dilma Rousseff e descontinuado após golpe de Estado praticado por Michel Temer e companhia em prol da implementação de políticas governamentais mais alinhadas a premissas econômicas neoliberais, com claro intuito de favorecer o segmentos social das elites detentoras do capital.
Em discurso com teor alinhado ao cenário apresentado, o de que a criação do campus do Complexo Alemão do IFRJ seria uma reparação a uma injustiça cometida contra aquela comunidade, o ministro da educação, Camilo Santana afirmou que o Instituto Federal do Rio de Janeiro irá chegar ao Complexo do Alemão e que o governo vai investir R$ 25 milhões naquela unidade. Mencionou, ainda, Santana, que o presidente Lula sempre diz que é preciso que se veja a dor das pessoas de perto, para que se sinta a realidade no coração, arregace as mangas e trabalhe por quem mais precisa e que é assim que estão reconstruindo o Brasil.
Por sua vez, ainda nesse mesmo evento, disse Eduardo Paes, prefeito da cidade do Rio de Janeiro, que mais do que ninguém, o morador do Complexo do Alemão sabia o que significava a falta de política pública e de um governo que olhasse pelos mais pobres. Mencionou, também, Paes que a criação do campus em questão era fruto de uma iniciativa do Governo Federal e da luta comunitária, de um plano popular que havia sido desenvolvido por lideranças do Complexo do Alemão, que haviam se articulado.
Entrevista com David Amen
Durante o 4º Festival de Comunicação Sindical e Popular, perguntamos a David Amen, jornalista, comunicador popular, morador do Alemão, produtor e coordenador do Instituto Raízes em Movimento, que é um instituto que atua com ações socioculturais no Complexo, quais eram suas expectativas a respeito do projeto de construção de um campus do IFRJ em sua comunidade.
David iniciou dizendo que a nova unidade é fruto de uma luta de mais de 10 anos e que tem esperança da obra realmente acontecer, entretanto, ressaltou que “é muito legal ter um IFRJ no Alemão, mas não basta ser ali no Alemão, tem que ser para o Alemão”, afirmou enfatizando a necessidade do IFRJ estar a serviço daquela comunidade. Continuou: “quem entra no IFRJ hoje nem sempre é a galera pobre que tem um ensino fundamental precário: falta professor, estrutura familiar…. Não é justo que o IFRJ do Alemão seja frequentado apenas por gente da classe média. Pode até ser frequentado pela classe média ali da área, mas que a favela acesse, que a favela frequente” disse o jornalista.
Amen também falou sobre o espaço previsto para a construção do novo IF no Alemão, o antigo terreno da Tuffi, que é o fundo de uma escola de ensino médio. Ele ressaltou as possíveis conexões educacionais, já que aquela zona é um espaço escolar: “atravessando uma rua tem uma escola de ensino fundamental e uma creche, então, ali pode se tornar um grande conglomerado educacional, é muito importante que isso ocorra”. David falou também sobre a importância de ter jovens frequentando o ensino técnico, algo que o IFRJ pode oferecer naquela região.
O comunicador esteve reunido com Rafael Almada, reitor do IFRJ, além dos outros representantes, e já deu sugestões assertivas sobre a construção do plano de ensino: “a gente quer que o IFRJ atenda as demandas daquele território, por isso sugerimos um diagnóstico local, ouvir as moradoras e moradores que estão ali, as organizações locais, para a gente entender qual é a demanda dos cursos que vão acontecer ali. O importante não é só ter a unidade, mas que essa unidade dialogue com o Alemão”. David afirmou que a partir desse diagnóstico da comunidade que cerca a futura unidade do IFRJ, as organizações locais vão sugerir quais cursos serão mais adequados.
Depois, Amen contou um pouco de sua trajetória, sobre o tempo que estudava em Botafogo e as dificuldades de locomoção e ressaltou a vantagem de ter uma instituição de ensino perto dos estudantes: “É uma luta, uma conquista, estou ansioso para que essa obra comece, para que tudo saia do papel logo, até porque a gente enquanto movimento social, ONG, eu que trabalho com produção cultural, a gente também quer ocupar o IFRJ com outras ações. Que seja o espaço não só dos cursos que vão acontecer ali, mas que seja um espaço da comunidade, que a gente possa ocupar com ações, com produções nossas e parcerias, acho que vai ser um ambiente que vai reverberar muita coisa boa”, disse ele ansiando essas conexões e projetos.
Ele concluiu dizendo: “nosso interesse maior é ter a unidade ali funcionando dessa maneira, com uma gestão participativa coletiva, com oitiva da favela, para que a favela participe, para que as organizações sociais contribuam. Se não for assim a gente faz esse papel também de vigilância”.
Todos estamos ansiosos pela inauguração do novo campus do IFRJ no Complexo do Alemão, sob, principalmente, uma construção democrática, respeitando e atendendo os anseios e demandas reais daquela comunidade que há muito espera por um ensino de excelência e acessível.
Entretanto, indo ao encontro do que pensa, muito assertivamente, o coordenador do Instituto Raízes em Movimento, entendemos que não basta o IFRJ chegar ao Alemão. É preciso que o Alemão possa chegar ao IFRJ. Do contrário, será apenas mais um ambiente segregacionista a perpetuar a macabra lógica de negação de acesso ao conhecimento científico às camadas mais pobres da sociedade.
Sintifrj na luta!
Direção Executiva – Biênio 2023-2025
Fontes:
https://portal.ifrj.edu.br/instituto-federal-rio-janeiro-complexo-alemao
