O 2º Encontro de Negras, Negros, Indígenas e Quilombolas (ENNIQ) realizado entre os dias 22 e 26 de março reuniu 301 sindicalizados(os) e ocorreu com grande sucesso e boas memórias. Como é possível ver nas nossas redes, publicamos a cobertura dos dois primeiros dias, agora vamos focar no que aconteceu no 3º e 4ª dias e também na plenária final, no 5° dia.
3º dia, 24 de março:
Dia das visitas à Reserva Indígena Mata da Cafurna (em Palmeira dos Índios-AL) e ao Parque Memorial do Quilombo dos Palmares (em União dos Palmares-AL), uma experiência mais próxima, diferente dos outros dias do evento. As(os) sindicalizadas(os) do SINTIFRJ estiveram presentes nos dois lugares. Para os que foram para a Reserva Indígena Mata da Cafurna foi possível sentir um pouco da cultura do povo Xucuru-Kariri, além de entrar em contato mais profundamente com a natureza. O indígena Yachykoran, que conduziu o grupo, falou sobre espiritualidade, a importância do cuidado e do amor à Mãe Natureza e dos perigos que ela sofre com os interesses dos poderosos que querem explorá-la. Ele pediu para que todos em seus trabalhos protegessem a Mãe Natureza e ensinassem seus alunos a fazer o mesmo.
Já os que visitaram o Quilombo também afirmam ter tido uma experiência maravilhosa. Ana Paula Silva, professora de biologia do IFRJ Arraial do Cabo, afirmou que “foi uma conexão com a nossa ancestralidade, sobretudo. Ali é um espaço de luta, de resistência, onde está preservada a memória de Zumbi dos Palmares, de Dandara e de outros guerreiros e guerreiras que lutaram pela liberdade. Fomos muito bem recebidos, foi muito bom!” disse ela.
O 4° dia, 25 de março:
Contou com a última mesa e os Grupos de Trabalho (GTs). A última mesa trouxe um tema importantíssimo que são as práticas antirracistas na Rede Federal, o papel dos Neabs, Neabis e grupos correlatos no combate aos racismos. Foi iniciada com uma performance belíssima da artista Gessyca Geyza, que mascarada contava história interpretando personagens que falavam sobre resistência.
Apresentada por Laurenir Peniche, professora de música e coordenadora do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros (Neab) do campus Belém do IFPA, a mesa contou com os(as) palestrantes: Edilson Baniwa, mestre em Linguística e Doutor pela UnB, linguista experiente em Educação Escolar Indígena, em pesquisas em Línguas Indígenas da família Aruák do Alto Rio Negro; Maria do Socorro Silva, doutoranda em Trabalho Social pela Universidade Complutense de Madri, membra do Grupo de Trabalho de Políticas Educacionais e Culturais do Sinasefe Natal-RN e da Escola Quilombo dos Palmares (EQUIP); e Tâmara Lúcia, professora do Ifal e fundadora do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (Neabi) do Instituto, técnica em Agropecuária, Zootecnista, Mestra em Ciência Animal e Doutora em Zootecnia.
Os palestrantes falaram sobre vários assuntos fundamentais para a compreensão da existência e atuação do Neabi como a Lei 10.639 que institui obrigatoriamente o ensino de “História e Cultura Afro-Brasileira” que resulta na necessidade de existir um núcleo deste. Foi feito um histórico das opressões por parte do estado, sobre o lugar do negro dentro das universidades, que não deve ser só na limpeza e na cozinha, reafirmando assim o papel fundamental do Neabi em acolher a(o) negra(o) de deixar ele se identificar, se reconhecer e se sentir pertencente a espaços de conhecimento, como as universidades. Falou-se sobre a necropolítica que os negros e indígenas sofrem, como o recente genocídio dos yanomami, sobre o fato de os negros e indígenas serem excluídos dos espaços escolares e logo serem a maior taxa de desempregados, subempregados, entre outros assuntos.
Tâmara comentou sobre como percebeu que a academia não a formou para educar o povo negro e quilombola e que ela teve que ir atrás, ler, ir a eventos para perceber e mudar o jeito de educar. Já o professor Baniwa, trouxe um pouco do que ensina aos indígenas no Instituto Federal do Amazonas (IFAM), desde a aplicação de provas na própria língua de seu povo a atividades fora do campus, também falou sobre os direitos dos povos indígenas, destacou que muitos não sabem, não conhecem seus direitos, além de falar sobre o combate ao branquismo na grade curricular, que vem quando recebem materiais de cursos e eletivas com temáticas que não têm nexo com a realidade Indígena. Socorro, por sua vez, disse que é preciso se despir das vaidades epistêmicas, isto é, da postura acadêmica branca, para prosseguir na luta contra o racismo e da importância da ajuda dos sindicatos também na luta anti racista.
Laurenir concluiu as falas da mesa ressaltando a necessidade da heteroidentificação (processo de identificação de negros e indígenas em concursos com sistema de cotas), para não permitir que brancos que “tiram as bisavós negras e indígenas do guarda roupa”, disse ela, ocupem os lugares daqueles que realmente sofrem racismo. Concluiu a fala dizendo que o Neabi é também um espaço para aliados brancos, onde eles podem ser acolhidos e devem participar de ações de formação e conscientização, mas não é para os Neabis serem comandados por pessoas brancas.
Após a apresentação dos palestrantes, houve muitas perguntas e um debate acalorado.
Depois do almoço, deu-se início aos GTs. Foram eles: grupo um, sobre interseccionalidades, gênero, raça, classe, etnia e a luta dos povos por um Brasil antirracista; grupo dois, sobre políticas e ações afirmativas, 10 anos da lei de cotas, 20 anos da Lei n° 10.639/2003, Lei nº 11.645/2008 e a educação antirracista no Brasil; grupo três, sobre necropolítica e etnocídio, povos periféricos e a luta pelo direito à vida; grupo quatro sobre política e poder, o papel do sindicato na luta antirracista e na Rede Federal de Educação. Nossos sindicalizados participaram dos grupos um, dois e quatro.
No fim da noite houve uma confraternização no restaurante Casa de Mainha, com música ao vivo, comidas típicas e maracatu.
5º e último dia, 26 de março:
O início da plenária final ocorreu no domingo de manhã, 26 de março, mas por conta do grande volume de proposições nos Grupos de Trabalho (GTs) realizados no quarto dia do evento, a equipe do SINASEFE presente não conseguiu realizar todas as deliberações necessárias dentro do seu tempo previsto. Em virtude disso, a própria Plenária Final Presencial deliberou por uma continuação virtual do espaço, que acontecerá dia 1° de abril, a partir das 9 horas, via Zoom. É importante frisar que, em respeito à primeira deliberação da Plenária Final Presencial, apenas pessoas negras, indígenas e quilombolas poderão votar na Plenária Final Virtual do dia 1 de abril.
O SINTIFRJ está na luta contra o discriminação, o racismo e em defesa dos povos indígenas.
Só a luta muda a vida!
SINTIFRJ na luta!