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Dia da Consciência Negra – Combater o racismo é uma luta diária.

O racismo está entre nós

É comum pensar que o racismo é algo que se vê apenas no noticiário ou nas redes sociais, mas é difícil identificar que ele está no meio de nós, nos ambientes de trabalho, nas salas de aula, entre os nossos alunos, filhos e até no que assistimos e ouvimos. O 20 de novembro, Dia Nacional da Consciência Negra, nos convida a identificação e o combate ao racismo no dia a dia.

Instituído oficialmente pela Lei nº 12.519 em 2011, o Dia Nacional da Consciência Negra, relembra a morte de Zumbi dos Palmares em 1695, líder do maior quilombo do Brasil, que foi elegido pelo Movimento Negro Unificado (MNU), em 1970, como um símbolo da luta e resistência dos negros escravizados no Brasil. O MNU naquela época identificou a necessidade de ressaltar as personalidades negras em uma história do Brasil tão branca, foi a troca da Princesa Isabel por Zumbi dos Palmares. 

O Treze de Maio, data em que a abolição da escravatura aconteceu, não foi considerado tão simbólico quanto o 20 de novembro pelo o MNU, já que, após a Lei Áurea, os negros ficaram sem nenhum tipo de assistência do poder público, sem acesso a terras, educação e trabalho. 

O 20 de novembro relembra a luta dos negros contra a escravidão e a ainda persistência do racismo e a desigualdade da sociedade brasileira, tal como da atual luta por direitos dos afro-brasileiros. Precisamos combater as ramificações da escravidão, adotar medidas concretas de reparação e de elevação da representatividade dos negros. Por isso, é preciso identificar o racismo, praticar o olhar sobre ele e pensar em formas de combatê-lo.

EMPREGABILIDADE 

As pessoas brancas são mais facilmente contratadas que as negras. Para achar o racismo no meio de nós, podemos olhar nosso ambiente de trabalho e ver em que cargos estão as pessoas pretas, se estão. Segundo o estudo Desigualdades Sociais por Cor e Raça no Brasil, pretos ou pardos somavam 64,2% da população desocupada e 66,1% da população subutilizada. No mercado de trabalho, os negros recebem, 1200 reais a menos em comparação com os trabalhadores brancos (IBGE). É necessário dar oportunidade para quem mais sofre nesse sistema: vagas de trabalho exclusivas para pessoas negras, leis que punam a diferença salarial racial e afins.

NA POLÍTICA 

A presença de parlamentares negras e negros é essencial para a mudança racial estrutural do país, são eles que vão criar políticas públicas contra o racismo. Quantas candidaturas negras vimos ao nosso redor nessas eleições de 2022? Votamos em pessoas pretas? São perguntas que temos que fazer para promover os negros ao nosso redor. Felizmente em comparação aos outros anos, a quantidade de políticos negros aumentou no Congresso nas eleições de 2022. Segundo um levantamento do Poder360, o número de candidatos negros representa 32% dos eleitos. Mas ainda há muito o que trabalhar, formar políticas de promoção, um bom exemplo é a PEC 28/2021, que determina que os votos dados a mulheres e pessoas negras serão contados em dobro para efeito da distribuição dos recursos dos fundos partidário e eleitoral.

DESIGUALDADE SOCIAL

Quando frequentamos espaços públicos praticamos o olhar do ponto de vista racial? É simples, vejamos de qual cor é a população de rua ou dos trabalhadores terceirizados e de qual cor são os frequentadores dos shoppings de elite, consultórios e até as salas de aula. Cerca de 56% da população autodeclara-se negra, mas, entre os mais ricos, os negros representam somente 17,8%. Em contrapartida, os negros representam 75% dos mais pobres, além de corresponderem à maioria dos presos no Brasil: 65% (IBGE). O racismo está nas classes sociais.

AMBIENTAL

Juntamente a essas questões das classes sociais, há um termo mais novo que é o racismo ambiental. Criado pelo ativista afro-americano Benjamin Chavis, o racismo ambiental se refere à estratificação da população negra nas comunidades e nos territórios de risco, a partir da raça, cor, etnia e gênero. Quando ocorrem eventos climáticos extremos ou crimes ambientais, grupos etnicorraciais em situação de vulnerabilidade são as mais afetadas. Quando aqui no Rio acontece algum desabamento ou enchente, quem são as pessoas que aparecem no noticiário dizendo que perderam a casa ou familiares? Pessoas pretas. 

CRIMINAL 

Umas das coisas mais importantes para combater o racismo é lutar contra o olhar criminal sobre os negros. Por que o negro tem cara de bandido e o branco não? Por que desconfiamos dos homens negros andando ao nosso lado na calçada e o homem branco não? Combater isso é necessário para criar instituições mais justas. Instituições que hoje pesam condenações em cima de homens pretos. Por exemplo, de acordo com o Ministério Público, os negros são mais condenados que os brancos quando são processados por posse de drogas. No entanto, paradoxalmente, eles são apreendidos com doses menores de substâncias ilícitas em relação a condenados brancos. Sabemos que com a polícia é mais complicado ainda: 76% dos mortos pela polícia são negros (Consórcio de jornalistas americanos Fatal Encounters) e quase 2,7 vezes tem mais chances de serem vítimas de homicídio intencional do que uma pessoa branca.

EDUCAÇÃO 

A educação racista que alguns alunos recebem em casa acabam se repercutindo nas escolas. O caso recente de racismo da estudante do IFRJ mostra isso. Como agir? Como repudiar e quais punições devem ser levadas em conta? Como educar esses alunos? Essas são as questões que os educadores devem fazer. Ainda há resistência de alguns professores e diretores em combaterem isso de maneira rigorosa. Em 1888 aconteceu a abolição da escravidão, mas somente em 2003 foi aprovada uma lei para tentar reduzir essa ausência de narrativas negras na educação. Esse tempo de ausência de reflexão sobre um povo que foi escravizado e que após isso foi colocado na criminalidade e na segregação socioespacial foi muito prejudicial. É preciso criar uma educação anti-racista, ensinar sobre a escravidão, lutar por uma educação que coloque o negro em um lugar de potência, onde as crianças negras se enxerguem em educadores, professores, coordenadores, palestrantes.

LÍNGUA  

Expressões como “da cor do pecado”, “denegrir”, “mulato”, “cabelo ruim” (para se referir ao cabelo crespo), entre outras tantas, tem origem racista e são herança e surgiram dos 300 anos de escravidão no Brasil que estão ramificados na nossa cultura, sempre posicionando a pessoa preta em lugar inferior. Para isso é necessário estarmos atentos às nossas próprias falas. Corrija-se sempre que necessário em relação a falas racistas e eduque seus filhos para não normalizarem essas palavras.

RELIGIÃO 

O racismo também está na religião. As religiões de matriz africana recebem injúrias constantemente, são associadas ao satanismo, sofrem ações de vandalismo cometidas contra terreiros e umbandistas e candomblecistas são violentados. Ainda na década de 30, as chamadas religiões de matriz africana eram proibidas no Brasil. Atualmente, apesar de a Constituição prever a liberdade religiosa, as religiões de matriz africana são intensamente perseguidas. Combater o racismo também é respeitar essas religiões, prezar pela presença dessas pessoas em debates, conversas, congressos, plenárias e palestras.

 

Como é possível perceber, o racismo está em todos os lugares e ainda há um longo caminho de combate. É bom ver que direitos já foram conquistados, o que dá esperança ao movimento anti-racista, mas isso significa que a luta não pode parar! Vamos continuar!

SINTIFRJ presente na luta antirracista!