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As possibilidades e os limites da “Greve” dos Caminhoneiros

NOTA DA FRENTE DE ESQUERDA DO SINASEFE

Está em curso no país um plano de desmonte das estatais. A privatização da Eletrobrás a baixo custo, o desmonte do sistema Petrobras, ameaça de fechamento de agências de correios com demissões em massa, bem como o anúncio de venda da Embraer evidenciam esse cenário. O aumento do combustível é um movimento de preparo para a privatização da Petrobrás, e de estimular um movimento eleitoral que reforce essa política de desmonte promovida pelo governo golpista de Michel Temer.

A política da Petrobrás tem sido ditada pela política do governo Temer que, desde julho de 2017, com a adoção da nova política de preços, diminuiu a produção de derivados e estimula variação do preço dos combustíveis que saem das refinarias com base nos interesses do mercado internacional. Assim, a medida visa agradar investidores internacionais e facilitar a venda de ativos e carga de refino de petróleo no país, privilegiando a sua importação. Apenas em 2017, a importação de gasolina cresceu 93% em relação ao ano anterior. A Petrobrás tem perdido espaço no mercado para suas concorrentes internacionais. Trata-se de um movimento orquestrado, com apoio midiático e da Lavajato, que pretendem reforçar a narrativa de que a empresa está quebrada e é alvo de corrupção.

Também não podemos negligenciar a tentativa de entrega de refinarias. Em abril, a direção da empresa anunciou a privatização de quatro refinarias e doze terminais da Transpetro (Pernambuco, na Bahia, Rio Grande do Sul, Paraná), abarcando quase 40% da capacidade de refino do país.

Desde segunda, dia 21, deflagrou-se um movimento de caminhoneiros que já atinge cerca de vinte estados. O centro mobilizador é denunciar os altos preços do óleo diesel nos postos. O que queremos evidenciar é que o desdobramento desse movimento pode apresentar algo positivo na conjuntura, apesar de seus limites. A greve dos caminhoneiros como se difunde já tem paralisado indiretamente a produção industrial, a regularidade das aulas em diversos municípios, o fechamento de postos de gasolina e a circulação de transportes nas cidades e rodovias.

Independente da pauta da greve dos caminhoneiros ser dirigira pelos ditames patronais do setor e de uma ideologia não-prigressiva nesse setor, é preciso entendermos o sentido da greve dos caminhoneiros e, sobretudo, apontar outros caminhos de saída. Disputar, por exemplo, alternativas com a pauta proposta pela Associação Brasileira dos Caminhoneiros (ABCAM) que se restringe a redução de carga tributária sobre o diesel.

A cadeia de transportes é heterogênea, contando com autônomos, micro empresários e grandes corporações. A alteração no preço do dólar e dos combustíveis prejudica a todos, especialmente a população que utiliza veículo próprio para ir ao trabalho – e no ritmo que está, o preço das passagens também deverá subir. O ganho vai para as grandes petroleiras e investidores internacionais, situadas nos países imperialistas que dirigem a OPEP.

Ser contra a greve – ainda que reconhecendo seus limites evidentes e quaisquer perigos ideológicos que se anunciam, e precisam ser refratados – é apoiar as petroleiras. A esquerda precisa apoiar o movimento, mas se diferenciar na disputa de narrativa, apontando perspectivas diferentes dos setores médios para resolver o problema, apresentando diferença programática.

Trata-se de uma categoria muito dispersa, com jornada de trabalho exaustivas, baixos rendimentos e pouca proteção, apresentando alto índice de adoecimento. Historicamente, apresentam pautas difusas, em geral capitaneada pelo discurso patronal e de direita. Mas o fato é que sua “greve”, nesse momento, ainda que atrelada ao discurso dos setores médios da sociedade, pode contribuir para o enfraquecimento da coalizão golpista, e a esquerda precisa ter a prudência de disputar a narrativa deste movimento para que não se reforce uma inflexão ainda mais à direita em nossa conjuntura. Procurar estimular unidade com outros setores para enfraquecer o governo Temer está correto e precisamos intensificar isso. Buscar a mais ampla unidade de ação.

É legítimo protestar contra a alta dos preços, especialmente quando o prejuízo recairá sobre os trabalhadores de conjunto (que arca com os custos via consumo), afinal, o preço da gasolina já ultrapassa R$ 5, o botijão de gás R$ 80 e os preços do diesel e derivados sobem diariamente. Tudo indica que os transportes também subirão de preço.

Mas, como dissemos, devemos apontar alternativas ao que os caminhoneiros e setores médios propõem: como a unidade de ação com demais setores organizados dos trabalhadores e articulação política integrada, a defesa do fim da nova política de preços da Petrobrás dirigida pelo Governo Federal golpista, o combate à formação de cartéis, dentre outras, além de exigir que o orçamento estatal seja revertido em serviços públicos de qualidade, através da revogação das reformas do governo Temer e do Teto de Gastos. Notadamente, é necessário se apontar para uma greve geral capaz de reverter as medidas reacionárias do governo golpista que solapam os interesses dos trabalhadores e a soberania nacional em benefício do capital internacional. É preciso unidade, é possível resistir! Greve Geral Já!

Apoiar a greve dos caminhoneiros e unificar as lutas e as greves em todo país. Essa é a tarefa da esquerda no país.

A chapa Sonhar e Lutar, que compõe a Direção Nacional do SINASEFE apoia essa luta, com essa perspectiva crítica.

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