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SINTIFRJ presente no 1º Encontro da Diversidade Sexual e de Gênero do SINASEFE: confira o que ocorreu e como foi a participação da nossa delegação

De 18 a 22 de junho, o SINASEFE realizou, de forma histórica, o seu primeiro Encontro da Diversidade Sexual e de Gênero, reunindo 130 participantes de 39 seções sindicais, vindas de 22 estados das cinco regiões do país. Entre elas, estava a delegação do SINTIFRJ, representada pela coordenadora geral Roberta Cassiano, que também integrou a comissão organizadora do evento, e pelos servidores Wagner De Avila Quevedo, Anderson Fontenele de Souza e Giovania Alves Costa.

O Encontro marcou um divisor de águas na história do SINASEFE. Pela primeira vez, a pauta da diversidade sexual e de gênero foi tratada como central dentro da estrutura nacional do sindicato, criando um espaço de escuta, troca e formulação política. O evento acolheu servidoras e servidores LGBTQIAPN+ da Rede Federal de Educação, que compartilharam experiências, denunciaram violências e construíram propostas concretas para ampliar a presença e a atuação da nossa comunidade nos espaços de trabalho e de militância sindical.

Durante cinco dias de programação intensa, o Encontro promoveu mesas de debate, rodas de conversa, plenárias e atividades de rua, com foco nos desafios enfrentados pela população LGBTQIAPN+ nos institutos federais, nos territórios e nas lutas sindicais. A abertura foi marcada por uma simbólica chuva de leques, saudando a liberdade, a irreverência e a força das nossas existências coletivas.

A comissão organizadora, composta por Teresa Bahia (secretária de políticas para LGBTQIAPN+), Gabriel Oliveira, o Gabo (secretário-adjunto), Roberta Cassiano e demais representantes sindicais, apresentou os marcos que antecederam o Encontro: o Manifesto “Não somos invisíveis”, publicado em agosto de 2023, e o debate promovido no 35º CONSINASEFE sobre a LGBTQIAPN+fobia nos espaços de construção política. Essas ações revelam uma trajetória de luta coletiva, construída a muitas mãos, para romper o silêncio e garantir que nossas pautas estejam no centro da agenda sindical.

A mesa de abertura contou com Letícia Nascimento (ANDES-SN), André dos Santos (FASUBRA) e Sara Wagner York (pesquisadora da UERJ), e abordou a importância da presença de pessoas LGBTQIAPN+ nos espaços de poder e decisão, a conjuntura política atual e a invisibilização histórica da produção intelectual trans. O debate foi aberto aos participantes, com mais de vinte falas que expressaram emoção, denúncia, memória, crítica e esperança. Foi um momento coletivo de afirmação e resistência.

No segundo dia, as discussões se concentraram nas interseccionalidades e na presença de LGBTQIAPN+ na vida sindical. A roda de conversa com Eurico Souza (IFAM), Jucélio Medeiros (IFSC) e Geovana Borges (UFPE/SINSSIFPE) tratou das lutas em curso nas seções sindicais, da criação de GTs, censos e registros de ações, e da necessidade de garantir que nossa presença não seja apenas simbólica, mas estruturante. Ficou claro que essa pauta é central para construir um sindicato verdadeiramente democrático e combativo.

Relatos potentes e comoventes de vida atravessaram a programação. Foram compartilhadas histórias marcadas por abusos, silenciamentos, resistências, afetos e reconstruções. A importância de criar espaços seguros e afirmativos foi enfatizada repetidamente. A arte — em forma de poesia, música e performance — apareceu como linguagem de denúncia, cuidado e força coletiva.

O terceiro dia foi dedicado às experiências dos Núcleos de Gênero e Diversidade Sexual (NUGEDS) e ao debate político sobre os encaminhamentos do evento. A mesa contou com Jenne Dantas (SINDSIFCE), William Nitschke (SINASEFE IFSul) e Flávio Kishigami (SINASEFE SP), com mediação de Elizângela Barros. As falas destacaram enfrentamentos concretos, como a reversão da demissão transfóbica da professora Êmy Virgínia em 2024, e denunciaram estratégias da extrema direita para perseguir docentes e atacar direitos mínimos, como o uso do nome social. Participantes de diversas seções compartilharam experiências de resistência, formação, disputa curricular e enfrentamento das LGBTfobias no interior da Rede Federal.

As atividades de rua marcaram o vínculo do Encontro com as lutas populares. Em marcha coletiva, representantes do SINASEFE se somaram a outros movimentos sociais e sindicatos em atos públicos, reafirmando que a luta LGBTQIAPN+ não está isolada. Faz parte de um projeto maior de sociedade, em que não cabe conciliação com o conservadorismo, nem silêncio diante das violências.

Ao fim do evento, foi construída coletivamente uma carta política com propostas e encaminhamentos, que será apresentada na próxima Plenária Nacional do SINASEFE. O documento expressa o que foi vivido ali: coragem, insubmissão e compromisso. Reafirma que todas as lutas são LGBTQIAPN+, porque não há transformação possível enquanto nossas vidas forem negociadas ou invisibilizadas.

O primeiro Encontro da Diversidade Sexual e de Gênero do SINASEFE não foi apenas um marco. Foi um levante. Um chamado à organização. Uma construção coletiva que apontou para um sindicalismo mais plural, mais radical, mais conectado com as ruas e com os movimentos que lutam por justiça social. Que essa presença não recue. Que nossa pauta siga visível, viva e inegociável.

Participação da coordenadora geral do SINTIFRJ na mesa “A diversidade sexual e de gênero e suas interseccionalidades”

Os debates da tarde do segundo dia do Encontro foram atravessados pela mesa “A diversidade sexual e de gênero e suas interseccionalidades”, que reuniu reflexões potentes sobre como as opressões se articulam e sobre a urgência de uma ação sindical que reconheça essa complexidade. Participaram da mesa Flávia Cândida (secretária de políticas para mulheres do SINASEFE), Leonardo Rocha (Sinasefe Litoral-SC), Evaldo Gonçalves (secretário de políticas étnico-raciais do SINASEFE), Calu (Sindscope) e a coordenadora geral do SINTIFRJ, Roberta Cassiano.

Professora de Filosofia, pesquisadora e militante lesbofeminista, Roberta compartilhou reflexões construídas ao longo de sua trajetória na educação popular, na comunicação contra-hegemônica e na articulação do NUGEDS no IFRJ Nilópolis. Sua fala defendeu a interseccionalidade não apenas como ferramenta analítica, mas como proposta radical de transformação. Retomando autoras como Lélia Gonzalez, Patricia Hill Collins e coletivos como o Combahee River, ela afirmou que a interseccionalidade nasce da luta de mulheres negras e lésbicas que, ao “pular o muro” das categorias dominantes, ampliaram o horizonte de todas as lutas.

“A maioria das mulheres que elaboraram sobre interseccionalidade são negras e lésbicas, mas suas lesbianidades continuam sendo apagadas”, afirmou. Em sua intervenção, Roberta argumentou que não há contradição entre as pautas LGBTQIAPN+ e as demais lutas da classe trabalhadora. Pelo contrário, são as perspectivas dissidentes que têm apontado os limites das estratégias de assimilação e conciliação, denunciando o pinkwashing de Estados genocidas, a higienização neoliberal das teorias queer e a domesticação das lutas via consumo e cidadania precária.

Ela destacou que a interseccionalidade, longe de fragmentar, propõe uma síntese ampliada: não há luta mais importante que a outra. “Todas as lutas são LGBTQIAPN+”, disse, ao defender que é preciso lutar contra o racismo, o capacitismo, a violência religiosa, a precarização dos serviços públicos e também pelas liberdades sexuais e de gênero, sem hierarquizar opressões. “Queremos ser tudo. E que tudo caiba nos nossos locais de trabalho e de militância.”

A mesa também foi marcada por outras contribuições significativas. Falaram sobre o papel do capitalismo na produção das opressões de gênero, raça e sexualidade, sobre os impactos do fundamentalismo cristão — inclusive dentro das religiões de matriz africana —, sobre as alegrias e dores da bissexualidade e sobre como tornar o SINASEFE um espaço mais acolhedor e menos violento para todes.

Durante o debate, foi enfatizada a urgência de construir alianças que não se deem à custa da dignidade de ninguém. As lutas contra as opressões precisam estar articuladas às pautas mais amplas da classe trabalhadora, como a resistência à Reforma Administrativa, a defesa da educação pública, da saúde, da moradia e da previdência. Mas é preciso reconhecer que só haverá justiça de fato se a radicalidade das nossas existências for mantida como norte político.

Roberta concluiu sua fala com um chamado à ação: “Essas são lutas de vida e morte. Para lutar, precisamos estar vivas, vivos e vives. E é por isso que não temos tempo a perder, nem podemos ficar em segundo plano. A tarefa radical que nos cabe é urgente. Que a gente não perca o foco, mesmo diante das armadilhas da conciliação, da neutralidade e da despolitização promovidas pelo capitalismo.”

Depoimento da nossa delegação

Depoimento do servidor Wagner De Avila Quevedo sobre sua participação no Encontro

O servidor Wagner De Avila Quevedo, da delegação do SINTIFRJ, compartilhou um depoimento potente sobre a sua participação no 1º Encontro da Diversidade Sexual e de Gênero do SINASEFE. Em sua fala à comunicação do sindicato, Wagner destacou o caráter histórico do evento, que reuniu pessoas LGBTQIAPN+ de 39 seções sindicais de diferentes instituições da Rede Federal de Ensino. “Foi um encontro no qual nós pudemos nos ver, nos enxergar e saber das nossas demandas, das nossas lutas, dos constrangimentos pelos quais passamos e de como os sindicatos reagem ou não a isso”, afirmou.

Wagner contou que sempre reconheceu a importância da luta sindical, tendo inclusive se sindicalizado ainda antes de ser efetivado no IFRJ. No entanto, relatou que nunca havia participado ativamente das ações, em parte pelo sentimento de que o movimento sindical, apesar de fundamental na defesa dos direitos da classe trabalhadora, ainda é atravessado por uma cultura política hegemonicamente masculina, branca e cisheteronormativa. Esse sentimento, segundo ele, foi compartilhado por várias falas ao longo do Encontro.

“É um movimento importante, com uma tradição marxista que valoriza a luta de classes, e isso é essencial, mas não é suficiente. Nós, pessoas LGBTQIAPN+, também somos trabalhadoras e trabalhadores. E os nossos marcadores sociais, de gênero e de sexualidade, informam diretamente como enfrentamos as opressões no ambiente de trabalho”, explicou. Para Wagner, o Encontro foi um divisor de águas. Reacendeu o sentimento de pertencimento e a compreensão de que é possível, sim, ocupar o espaço sindical com nossas pautas, corpos e existências.

Embora nunca tenha vivido situações de violência direta dentro do sindicato, Wagner relatou que essa distância também vinha da falta de identificação. “Sempre me pareceu um lugar onde a minha presença talvez não fosse bem-vinda, porque não via minhas questões, de sexualidade, de identidade de gênero, sendo tratadas como parte das lutas sindicais. Esse evento mudou isso. Pode ser uma virada de chave para muita gente.”

Entre os encaminhamentos aprovados no Encontro, Wagner destacou a proposta de criação de Grupos de Trabalho sobre Gênero e Diversidade Sexual nas seções sindicais como um dos mais promissores. Para ele, esse passo tem o potencial de mobilizar outras pessoas LGBTQIAPN+ que, como ele, reconhecem a importância do sindicato, mas ainda se mantinham afastadas pela ausência de representatividade e acolhimento.

“Saio animado. Espero que a gente consiga levar essa proposta também para o SINTIFRJ, para que mais colegas possam se sentir parte dessa luta. Porque as lutas da classe trabalhadora também são lutas interseccionais, que articulam raça, gênero, sexualidade e tantas outras dimensões da opressão. E só assim podemos de fato construir um sindicato combativo, plural e transformador”, concluiu.

 

Carta de São Paulo com encaminhamentos

No momento dos encaminhamentos, os participantes redigiram coletivamente a Carta de São Paulo, que será apresentada na próxima Plenária Nacional do SINASEFE. A Carta enfatiza o preconceito contra as pessoas que não se encaixam no padrão cis-heteronormativo e como ele se manifesta diariamente nas interfaces sociais, profissionais e também sindicais. Denuncia o preconceito velado por meio de comentários, piadas e marginalização no ambiente político e sindical. Reforça o perigo do avanço das agendas de extrema-direita conservadora, reacionária e fascista, que ameaçam direitos igualitários duramente conquistados. Aborda ainda os benefícios e os malefícios das redes sociais para as pessoas LGBTQIAPN+, ressalta os impactos negativos dos cortes orçamentários nos Institutos Federais, que comprometem a existência dos NUGEDS, e critica as contribuições do capitalismo para o cenário LGBTQIAPN+fóbico, incluindo a prática ingrata do “pink money”. A Carta também destaca os avanços das políticas de diversidade e gênero no SINASEFE, entre outros pontos.

A Carta deixa claro que o Encontro não foi um privilégio concedido pelo SINASEFE, mas sim uma conquista da militância LGBTQIAPN+, ao reivindicar a mesma atenção que o Sindicato Nacional já destina a outras pautas de combate às opressões. O documento expõe as propostas e encaminhamentos construídos coletivamente, que serão lidos e apreciados na próxima Plenária Nacional do SINASEFE. Dentre eles, está a criação de um observatório com o objetivo de estudar e acompanhar a violência contra pessoas LGBTQIAPN+ nas instituições educacionais, a realização de mapeamentos de identidades de gênero e sexualidades no movimento sindical, e a construção de Grupos de Trabalho e núcleos de gênero e sexualidades nas seções, entre outros encaminhamentos.

Você pode ler a carta completa nesta matéria:
https://sinasefe.org.br/site/sinasefe-encerra-1o-encontro-da-diversidade-sexual-e-de-genero-na-parada-do-orgulho/

Atos de rua: Caminhada das Mulheres Lésbicas e Bissexuais e Parada do Orgulho

O SINASEFE encerrou o 1º Encontro da Diversidade Sexual e de Gênero no domingo, 22 de junho, em conjunto com a 29ª Parada do Orgulho LGBTI+ de São Paulo. Durante a Parada, sindicalizadas e sindicalizados do SINASEFE, de diversas seções sindicais, reafirmaram o orgulho de pertencerem à comunidade LGBTQIAPN+ e levaram às ruas também a defesa de uma Palestina livre, exigindo o rompimento das relações oficiais entre Brasil e Israel e o fim da escala 6×1.

Em 2025, a Parada do Orgulho LGBT+ de São Paulo convidou todas as pessoas a olhar com respeito, visibilidade e carinho para uma parte essencial da nossa comunidade: as velhices LGBT+. Com o tema “Esse eu quero e pronto”, o manifesto celebrou quem desafiou o tempo, rompeu barreiras e pavimentou os caminhos do orgulho. “Envelhecer LGBT+ é memória, resistência e futuro. É afirmar que cada fase da vida merece dignidade, afeto e representatividade. Nesta 29ª edição, nossa luta continua viva e mais forte do que nunca. Porque o tempo nos fortalece. E o orgulho nos une”, destacou a organização do evento.

No sábado, 21 de junho, sindicalizadas e sindicalizados se somaram à 23ª Caminhada das Mulheres Lésbicas e Bissexuais, que teve como objetivo dar visibilidade às lutas por direitos, cidadania e reconhecimento das existências dessas mulheres. Durante a concentração da atividade, foi lançado o Manifesto da 23ª Caminhada de Mulheres Lésbicas e Bissexuais de São Paulo. Com o título “Por uma vida livre das violências e do racismo! Em defesa da democracia e sem anistia aos golpistas!”, o documento denuncia os diversos ataques sofridos por mulheres LBTQIA+. Segundo o manifesto, as políticas públicas seguem ineficazes e muitas vezes ausentes, enquanto os casos de lesbocídio crescem exponencialmente a cada ano.

Para saber mais detalhes sobre tudo o que aconteceu no Encontro, leia as matérias disponibilizadas pelo SINASEFE e acompanhe as redes do Sindicato Nacional.

A partir das discussões realizadas durante o Encontro, o SINTIFRJ se compromete a incorporar em sua composição, atuação e projetos as propostas políticas e os horizontes abertos por este evento de extrema importância. Nosso sindicato segue aberto a crescer junto com o avanço das lutas da comunidade LGBTQIAPN+.

SINTIFRJ na luta pelo respeito à diversidade sexual e de gênero!

Direção Executiva – Biênio 2023-2025