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Estudantes do IFRJ entregam carta a Lula

Era 20 de outubro de 2022, ano de uma eleição histórica, talvez a mais importante depois da redemocratização do Brasil. Neste dia, estava marcado um comício em Padre Miguel, onde Lula participaria  junto a outros políticos.  Na noite daquela quinta-feira, as estudantes Thatyane Moraes, Luana Vieira, Juliana Mamani  e o estudante Lucas Vasconcellos, do IFRJ de Realengo, marcavam sua presença na história: naquele dia elas e ele entregaram uma carta diretamente ao presidente Lula. 

De onde surgiu a ideia e a motivação para fazer a carta? Podemos dizer que foi uma construção com várias etapas. Tudo começou no dia em que o governo federal anunciou que faria mais contingenciamentos na verba do MEC, no início de outubro. A partir daquele dia o movimento estudantil começou a se articular e se reunir em assembleias, o que mais tarde culminaria na mobilização para o ato do dia 18 contra os cortes na educação.

Após saber que o presidente Lula estaria presente em um comício em Padre Miguel no dia 20 de outubro, a professora Neli Almeida, do campus Realengo, teve a ideia de incentivar uma fala de alguma representação estudantil, e pediu apoio à estudante Yasmin Siqueira para a indicação desta representação.  Neste momento, Thatyane Moraes foi a  escolhida para aproveitar essa oportunidade de falar com o presidente Lula, representando os estudantes do campus Realengo do IFRJ. A partir daí, houve uma construção conjunta do que seria falado no dia do comício com a contribuição da própria Thatyane, da Juliana, da Luana e do Lucas. 

A proposta de fala, que acabaria se tornando uma carta ao presidente Lula, começa abordando a trajetória da Thatyane: “eu me chamo Thatyane, sou uma mulher estudante, sapatão, filha de uma mulher preta e empregada doméstica. Nascida na Baixada Fluminense, eu e toda minha família somos resultados das políticas de assistência dos governos de esquerda, e principalmente do governo Lula. Sou também, graças ao governo Lula, a primeira da minha família a ingressar no ensino superior, no âmbito Federal.”

A seguir, o texto aborda diversas pautas sociais e econômicas de muita importância para os estudantes, como o Projeto REUNI, que leva as universidades e institutos federais para as periferias, como é o caso de Realengo e São Gonçalo, além de ter como meta expandir e aumentar o investimento de verba nas universidades. Outra pauta importante presente no texto é a cobrança pela revogação do teto de gastos criado no governo Temer, que limita o investimento em políticas públicas de ensino e saúde. O estudante Lucas comenta que “a resistência começa desde o governo Temer, não é só por causa do governo Bolsonaro que estamos atuando no movimento estudantil”. 

Segundo Lucas, o IFRJ Realengo foi a primeira instituição a lutar contra a PEC 95, começando as ocupações logo após a sua aprovação, fato que enche o estudante de orgulho. Ele destaca que a luta por um movimento estudantil unido e forte é essencial independente de qual governo seja. 

Na carta também é mostrado como o investimento em educação retorna para a sociedade. Além do IFRJ Realengo contar com uma clínica-escola que atende mais de 400 pessoas na região, na Pandemia, os alunos do IF Realengo foram responsáveis por produzir e distribuir álcool em gel para a comunidade, e organizar a distribuição de cestas básicas para aquelas e aqueles que se encontravam em insegurança alimentar. Apesar do IFRJ possuir a clínica-escola ser um avanço, Luana destaca a falta de uma farmácia-escola. Na entrevista para o SINTIFRJ ela pontua que “a farmácia-escola é essencial para que os alunos de Farmácia tenham continuidade nos estágios e possam atender à comunidade.”

A carta também destaca a importância do movimento popular educacional +Nós, uma iniciativa que promove acesso à educação para jovens da periferia sem nenhum custo, criando mais oportunidades para que estes estudantes possam sobressair no vestibular do país, que é tão competitivo. Com a ajuda do +Nós, diversos estudantes conseguiram chegar ao ensino superior e hoje podem vislumbrar uma vida melhor no futuro. 

Na entrevista, a estudante Juliana Mamani relata que acredita no ciclo educacional que o +Nós pode gerar. “A gente tem orgulho porque muita gente que participou do +Nós como estudante hoje em dia está na graduação, e acaba voltando para o mais +Nós como voluntário, seja professor ou coordenador para somar.”

Luana Vieira e Juliana Mamani, ambas de São Paulo, comentaram sobre outro problema, também descrito na carta. Segundo elas, o Passe Livre Universitário não é totalmente eficiente. A carta destaca que em todo o IFRJ há “estudantes que vêm de diferentes regiões do Rio de Janeiro e que não têm acesso ao Passe Livre Universitário, pois contempla apenas moradores da cidade do Rio de Janeiro”. 

Assim como o Passe Livre Universitário, o campus Realengo precisa investir em restaurantes universitários para os estudantes que estudam de maneira integral, e ampliar a verba do auxílio moradia para que ela possa alcançar todos os estudantes que necessitem, e de maneira que supra os custos necessários para permanência de todas e todos na instituição. Inclusive, segundo Luana, neste ano foram cortados dois meses do auxílio moradia. Estes problemas financeiros ajudam na evasão dos estudantes, pois muitos não conseguiram se manter, ainda mais no período que tivemos a pandemia.

Dia 20/10 – Momento histórico, o dia em que Lula recebeu a carta dos estudantes do IFRJ Realengo

Desde às 16:30h, estudantes e trabalhadores concentrados no bairro de Padre Miguel aguardavam ansiosamente o presidente aparecer para mostrar o apoio à candidatura e para somar forças nesta campanha para derrotar Bolsonaro. Por volta das 20h, a espera havia terminado: Lula apareceu acenando para multidão acompanhado de políticos aliados. Começava então a saga dos quatro estudantes do IFRJ Realengo para entregar a mensagem a Lula em meio a uma multidão de pessoas que o aguardavam.

Os quatro estudantes precisavam se destacar naquela multidão para conseguir entregar a carta ao presidente Lula, então começaram a pensar em diversas maneiras de atingir o objetivo. Uma delas foi fazer com que as vozes dos estudantes fossem sobrepostas ao barulho da multidão, então como num grito de guerra, os estudantes puxaram o coro e logo outros muitos soltaram a voz em um só ritmo: “IFRJ, IFRJ, IFRJ, IFRJ, IFRJ”. Isso foi o bastante para se destacarem no meio do ato e chamarem a atenção de Lula, mas ainda não era o suficiente para entregar a carta. Então eles amarram a carta em uma placa improvisada do IFRJ e, em seguida, Juliana subiu nas costas de Lucas para conseguir se aproximar mais do carro de som. Enquanto isso, Thatyane e Luana, junto com outros estudantes ao redor, ajudavam empurrando do jeito que podiam para que Juliana avançasse pela multidão nas costas de Lucas. Depois de muita luta, Juliana estica o braço e a carta finalmente chega às mãos de Lula, que a lê e guarda a mensagem no bolso. 

Missão comprida! A mensagem chegou ao seu destino. Juliana diz que foi uma sensação indescritível: “quando a gente entregou a carta, nossos olhos lacrimejaram, o nosso corpo ficou totalmente arrepiado, a gente não sabia quem estava abraçando, independente de quem estava do nosso lado”. A sensação de conquista permanece até hoje: “como se a gente tivesse mudado o mundo. Participei de um processo histórico. O Lula olhou para a gente e falou: ‘Caramba me dá a carta’” comemora Juliana. “A gente sente que fez um grande marco” – considera. 

Após a entrega da carta, foi só emoção. A alegria tomou conta dos estudantes, que voltaram a gritar o nome da instituição: “IFRJ, IFRJ, IFRJ, IFRJ, IFRJ.” Se havia alguém ali na mobilização que ainda não conhecia a instituição federal, conheceu naquela noite. 

Lula é o candidato que está a favor dos estudantes, professores, servidores e da educação. O dia 20 de outubro foi um momento histórico para o IFRJ! Mesmo nestes tempos críticos de desmonte de instituições e universidades, o movimento estudantil não abaixou a cabeça, e mostrou que a luta unificou: é estudante junto com trabalhador, pois a educação é a nossa luta!

Neste domingo, dia 30 de outubro, o país voltará a sorrir, pois Luiz Inácio Lula da Silva será eleito novamente presidente do Brasil. É LULA 13! E FORA, BOLSONARO!