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Prestação de contas da Campanha da Solidariedade pela vida

Em meio à crise sanitária e social, o SINTIFRJ organizou em 2020 campanha para apoiar inúmeros estudantes, servidores e coletivos em todo o Rio de Janeiro

A pandemia do novo coronavírus expôs e intensificou as desigualdades brasileiras. Foi possível identificar que desde o início da onda de contaminações até agora, a população pobre foi continuamente a mais prejudicada, morta e banalizada seja pelo vírus, pela fome, dentre diversos outros problemas que estão impactando esta população diretamente. O Sindicato dos Trabalhadores do Instituto Federal do Rio de Janeiro (SINTIFRJ), com a consciência de que os estudantes e servidores mais vulnerabilizados do Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ) e seus movimentos próximos agregados passariam dificuldades, deu iniciativa à Campanha da Solidariedade pela Vida. 

Lançada pela diretoria do SINTIFRJ, ela ocorreu para apoiar alunos, servidores e iniciativas organizadas por coletivos e movimentos sociais que desenvolveram ações de prevenção e combate ao coronavírus. Dentre essa população considerada vulnerável, está o povo em situação de rua e os moradores de favelas e periferias, que em grande parte são autônomos (camelôs, comerciantes de pequenos estabelecimentos, diaristas, motoristas de aplicativos, mototaxistas). Estes sofreram não só com os riscos da pandemia, mas com o desemprego, a falta de recursos financeiros para adquirir alimentos, materiais de higiene e limpeza para eles e seus familiares. 

Iniciada no mês de abril, a campanha durou até novembro de 2020, contabilizando R $213.972,31 de doação, sendo R$ 202.282,31 dados pelo SINTIFRJ, R$7.000,00 do Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica (SINASEFE), a sede nacional, e R $4.690,00 pelos servidores e servidoras que ajudaram através de vaquinhas online para a compra de cestas básicas e materiais de higiene. Os servidores também encaminharam ao sindicato entidades sociais que pudessem fortalecer a campanha. 

Além das ações de solidariedade, a campanha também é marcada pela conscientização política de que a saída para a crise sanitária não está nas medidas neoliberais de retirada de direitos dos trabalhadores, mas em um programa emergencial anti-neoliberal em defesa da saúde pública e de recursos sociais por parte do Estado.

Ao longo de sua duração, mais de 20 coletivos de diferentes lugares do Rio foram contemplados. Veja abaixo alguns desses e seus respectivos relatos, além de alguns beneficiados:

O Movimento Unidos dos Camelôs (MUCA), que há décadas vem denunciando as violações que os camelôs sofrem cotidianamente em todo o Rio de Janeiro, recebeu o apoio. Com a doação financeira, eles conseguiram atender com cestas básicas mais de 100 trabalhadores que dependem da solidariedade para levar comida aos seus familiares, já que não conseguem dar continuidade aos seus trabalhos nas ruas. 

O coletivo JUNTOS também recebeu ajuda financeira, eles fizeram a distribuição de máscaras por diversas ruas dos bairros da Zona Norte do Rio de Janeiro. Já o Pré-Vestibular Comunitário da Mangueira (ADEP), outro grupo beneficiado, atendeu 50 famílias com cestas básicas e fraldas descartáveis. O Coletivo TransVida, que atende o público de HIV/Aids, distribuiu cestas básicas e enviou para o SINTIFRJ um agradecimento: “Atendemos pessoas e famílias de alta vulnerabilidade e que neste momento estão confinadas, sem sair de casa por causa do coronavírus”. 

Bruna Tavora, 34 anos, é coordenadora estadual da Campanha Mutirão Contra a Fome, realizada pelo Movimento dos Pequenos Agricultores no estado do Rio de Janeiro  (MPA-RJ). Para ela, o momento de mais dificuldade durante a pandemia para seu movimento foi adquirir recursos para escoar a produção dos alimentos das famílias camponesas vinculadas ao (MPA-RJ) e fazer esses alimentos chegarem nos Comitês Populares do Alimento (grupos de consumo que o MPA organiza em comunidades no Rio). O SINTIFRJ ajudou o movimento fazendo um repasse de recurso para a compra de alimentos agroecológicos das famílias camponesas ligadas ao MPA, e direcionada ao Comitê Popular do Alimento que fica na comunidade do Morro dos Macacos, organizado pela parceria do MPA com o Vive Pré Vestibular Comunitário. 

“O repasse possibilitou a estruturação e organização do Comitê Popular do Alimento, grupo que organiza cerca de 20 famílias que moram no Morro dos Macacos. Contribuiu com o atendimento às urgências de combate à fome e segurança nutricional daquele grupo, permitindo levar o alimento saudável para aquela população. O grupo é formado, basicamente, por mulheres chefes de famílias que são articuladoras comunitárias do território. Ao mesmo tempo, o repasse garantiu que os alimentos da agricultura camponesa e familiar fossem comercializados, garantindo a renda das famílias nesse momento tão difícil – em razão do impacto do isolamento social na comercialização.” afirma Bruna.

Luiz Felipe Ribeiro, 26 anos, designer, mora em Belford Roxo e faz parte da Rede Emancipa, que é um movimento social de educação popular no qual o IFRJ é um parceiro, pois alguns cursinhos acontecem dentro dos IFs. Sobre a arrecadação no movimento ele relata: “Para muita gente o Natal foi bem diferente, marcado por uma pandemia que levou a muitos, mas também marcada pela fome, pela diminuição dos recursos. Foi bem traumático, por isso tivemos a necessidade de enquanto coletivo, explorar os contatos que a gente tem como o do SINTIFRJ e se juntar para fazer uma campanha e atender essas pessoas, sabendo das limitações, mas tentando dar uma resposta a essas dificuldades que se acentuaram já com o fim do auxílio emergencial.”

Nayara Pâmella Menezes Oliveira, 20 anos, também moradora de Belford Roxo teve a família beneficiada pela campanha organizada pelo Emancipa com o auxílio do SINTIFRJ. Conta que o momento difícil foi quando ela e sua mãe ficaram desempregadas durante a pandemia, o que fez com que necessitasse do benefício. “Eles me beneficiaram com uma Cesta de Natal. Ajudaram minha família na situação de dificuldade, e chegaram no momento certo.” diz.

O sindicato agradece novamente a todos os servidores e servidoras que contribuíram com a campanha que já atendeu centenas de famílias em todo o estado do Rio de Janeiro. Em qualquer país minimamente civilizado, com um Estado atuante e uma sociedade civil que prezasse pela vida, ninguém estaria passando por tal situação desumana a que grande parte da população está submetida. Diante desse quadro, a campanha teve como objetivo mobilizar a solidariedade e apontar para a organização entre trabalhadores e estudantes amenizando os efeitos sociais da falta de governo durante a pandemia.