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Entrevista com Bárbara Santos no mês das mulheres

Em referência ao mês das mulheres, o Sindicato dos Trabalhadores do Instituto Federal do Rio de Janeiro (SINTIFRJ) reconhecendo a importância de pautar esse tema continuamente fez uma entrevista com a professora de Língua Portuguesa e Literaturas do Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ), Bárbara Santos, de 35 anos. Nascida e criada em Duque de Caxias, Bárbara é mãe de um menino de 3 anos e está grávida de 4 meses do segundo filho, além de ter sob seus cuidados também o enteado de 11 anos.  Mora em Pinheiral e está investindo num estilo de vida mais sustentável com seu companheiro, com quem divide todas as tarefas da casa. Leciona atualmente no ensino médio-técnico e na pós-graduação do Campus Volta Redonda através das Atividades Pedagógicas Não Presenciais  (APNPs). É graduada, mestra (UERJ) e doutora (UFRJ) em Letras.

Segue a entrevista feita com Bárbara:

 1 – Neste mês que é lembrado e comemorado o Dia Internacional das Mulheres, queremos pautar o quanto as mulheres estão sofrendo com o impacto da sobrecarga de trabalho durante esse período da pandemia. Comente aqui o por que você acha que a sobrecarga de trabalho ainda recai sobre as mulheres ainda hoje?

A pandemia só acentuou velhos problemas da nossa sobrecarga, pois, historicamente, na sociedade patriarcal e misógina em que vivemos, somos educadas para dar prazer aos homens, limpar e organizar a casa e, no caso das mulheres mães, cuidar dos filhos. Com os avanços no alcance social feminino, as mulheres que foram ao mercado de trabalho tiveram que atribuir a outras mulheres (diaristas, babás, professoras) o cuidado com a casa e as crianças, mantendo o ciclo de opressões às mais pobres, em sua maioria negras e/ou periféricas. Aquelas que não perderam seus empregos durante a crise sanitária e econômica que vivemos, estão mais expostas ao coronavírus. Quando chegam do trabalho, têm dificuldade para exigir a divisão de tarefas e assumem outra jornada laboral. Muitas ainda enfrentam a violência doméstica e a de gênero, principalmente o grupo LGBTQI+. No caso das mulheres mães, além de tudo isso, elas ainda são requisitadas pelas crianças, pelo vínculo profundo que têm entre si, além da atenção que dão às relações amorosas, conjugais e a outros membros familiares. Já as mães solo não têm sequer a quem pedir apoio, assumindo tudo sozinhas. Para mulheres que estão em home office, também não é fácil perder sua autonomia e seu ambiente de trabalho, acumulando dezenas de tarefas simultâneas em casa.

2 – Como essa sobrecarga de trabalho impacta diretamente na saúde física e mental das mulheres, mães, donas de casa, educadoras, trabalhadoras?

Para as mães com filhos em idade escolar, os sofrimentos das crianças têm sido agravados pelos abalos psicológicos provocados pela privação de convívio com outras crianças e pelas demandas do ensino remoto durante a pandemia, onde muitas delas estão fazendo ainda o papel de professoras. Enquanto isso, muitas educadoras estão em ensino remoto com seus filhos em casa ou já estão sendo expostas nas escolas com o retorno das aulas em algumas unidades educacionais, mesmo sem um plano de vacinação prioritário nacionalmente definido para esse grupo. Para as mães com filhos em idade pré-escolar, como as puérperas, por exemplo, a vivência da maternidade é uma avalanche sobre sua produtividade laboral e acadêmica, pois socialmente somos massacradas com a violência obstétrica; com as pressões da indústria alimentícia sobrepostas às dificuldades naturais para amamentar; os mil palpites e as raras redes de apoio; os míseros 4 ou 6 meses de licença-maternidade; as demissões; os impactos hormonais sobre o corpo e os abalos emocionais. Isso sem falar que, além das gestantes, as puérperas também fazem parte do grupo de risco, que está mais vulnerável às complicações da COVID-19, com o agravante de não haver estudos conclusivos sobre a vacinação para elas, tampouco uma legislação ampla que lhes resguarde fora do trabalho presencial sem restrições e perdas salariais.

3 – Qual seria a saída para que o trabalho (doméstico) pudesse ser mais dividido, seja neste período da pandemia ou mesmo pensando no pós pandemia?

A saída é a ação cidadã e política pela equidade de gênero. Isso pode ser feito pessoalmente, através de diálogos diretos com as pessoas do nosso convívio e através do compartilhamento de informações seguras das redes sociais, da grande mídia e da publicidade. Contudo, é fundamental uma movimentação social e institucional para expor e sanar nossos principais problemas e para valorizar a imagem da mulher fora dos estereótipos “mulher bela e guerreira que dá conta de tudo”. Precisamos que a escola esteja atenta a esses debates, para conscientizar meninas e meninos desde cedo; de maior participação no âmbito eleitoral, para lutar pelas pautas femininas; e de promoção de políticas públicas que não só exponham o menosprezo social com o qual sofremos, mas que também provoquem uma mudança geral de mentalidade e de atitude por parte de homens e mulheres, colocando o feminismo, principalmente sob um viés interseccional, como uma atitude coletiva.