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Entrevista com Bárbara Aires

Entrevista com Bárbara Aires: É pela vida das mulheres!

Mais de 20 mil mulheres participaram do ato do ‘Dia Internacional das Mulheres’ na última sexta, dia 08 de março, no Centro do Rio de Janeiro. As manifestantes carregavam cartazes e faixas com dizeres como “Mulheres contra Bolsonaro e a Reforma da Previdência”, “Justiça para Marielle”, “Quem mandou matar Marielle?” e “Paz entre Nós, Guerra aos Senhores”. O Sintifrj esteve presente no ato e, para reafirmar a luta das mulheres diante de um governo cada vez mais conservador, iremos publicar em nosso site entrevistas com diversas mulheres que fazem de suas vidas histórias vivas! A primeira entrevistada foi Bárbara Aires, de 35 anos, que é Assessora Parlamentar, Consultora de Gênero e Sexualidade e Atriz, e milita no movimento LGBTI. O foco da nossa entrevista é sobre o avanço que o nosso país ainda precisa ter em relação à inclusão de mulheres trans em seus direitos mínimos. Confira a nossa entrevista e divulgue:

1 – 29 de janeiro foi o dia da ‘Visibilidade Trans’ no Brasil, o que o nosso país já avançou em termos de políticas públicas para a população trans e no que precisamos ainda melhorar em relação a esta causa?

Falando em termos efetivos, pouca coisa. Temos muitos decretos, resoluções, normativas e pareceres jurídicos. Mas, lei mesmo, não temos. Avançamos um pouco em debate e visibilidade, mas a macropolítica é muito conservadora e preconceituosa, não acompanhou o debate, e ainda está parada em nome social e uso de banheiro, os direitos mais básicos, mas que, para nós, precisa ser discutido se podemos ou não. Por exemplo, o STF autorizou a retificação de prenome e gênero direto no cartório, sem necessidade de cirurgia genital e ação judicial. O legislativo já pensou em uma lei que nos obrigue a contar que fizemos essa alteração. Tem projeto pra colocar raio-x em porta de banheiro e que usemos banheiro de acordo com genital. Isso pra citar os mais recentes.

Precisamos garantir acesso, inserção e inclusão das pessoas travesti e transexual na educação, no mercado de trabalho e na saúde. O Estado precisa garantir e defender que essa população não tenha seus direitos negados simplesmente por ser quem é. É preciso uma sensibilização periódica dos servidores para o atendimento correto e de forma humana. Infelizmente, ainda brigamos pelo básico.

2 – O mercado de trabalho parece ainda pouco incluso para a população trans, no que os sindicatos – de qualquer categoria – poderiam melhorar esta luta dentro das suas categorias?

Infelizmente, a população ainda acredita no estigma de que não queremos estudar nem trabalhar formalmente, apenas na prostituição. É preciso, primeiro, buscar as travestis e transexuais que almejem trabalhar na área, se mostrar um sindicato acolhedor e respeitoso com a condição daquela pessoa. Buscar também as que já trabalhem na área para se sindicalizar, e assim pressionar o mercado para contratar também essas pessoas. Precisamos de exemplos de trans que estão no mercado formal, dar visibilidade a elas.

3 – A educação pública ainda precisa melhorar em muitos dos temas em sala de aula, seja em identidades negras, indígenas, culturais, dentre outras que não aparecem nem ao menos nos livros didáticos. E em relação à população trans, no que as escolas públicas e as universidades poderiam ajudar e incluir essa pauta dentro e fora das salas de aula? Como você sugere trabalhar essa causa em sala de aula em um momento de grande perseguição às populações LGBTI+ no Brasil? Como a sociedade pode apoiar esta luta?

Começando a respeitar de fato o nome social e uso do banheiro. Pode não parecer, mas esses são os dois fatores que mais afastam travestis e transexuais de escolas e universidades. Seja para lecionar ou estudar. Precisamos ter mais professores transexuais. Contrate professores trans. Contrate funcionários trans. A biologia não fala de nossos corpos e condição de gênero. A história nos apaga. Precisamos trazer para o debate a questão, seja pedindo uma pesquisa ao aluno, seja levando uma pessoa trans para dar uma palestra na sala, na escola, seja passando um filme com temática trans e pedindo um resumo. No caso de alunas trans, além do respeito ao nome e gênero, incentivar trabalhos em grupo, ocasionar uma maior convivência de alunos cis com trans, para ter uma inclusão real.

Infelizmente, a sociedade ainda nos enxerga como algo que não deveria existir, algo errado, sujo. Ainda estamos na fase em que nós temos que provar pra sociedade que somos pessoas, seres humanos comuns, com sentimentos e anseios, igual a qualquer outra pessoa. Somos iguais, mas somos diferentes, todos. No meu entender, essa é a lição mais difícil, da pessoa assimilar e praticar. Mas, caso a pessoa já tenha perdido seu preconceito em relação a nós, conviva. Convide pro aniversário, pro churrasco de final de semana, tire uma foto com seus amigos trans e poste nas suas redes sociais. Precisamos humanizar essa população. Ainda, estamos nessa fase.

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