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Pelos direitos da mulheres indígenas no Brasil

Márcia Wayna Kambeba, e a luta pelos direitos da mulher indígena no Brasil

Marcia Wayna Kambeba, nasceu numa aldeia que faz fronteira com a Colômbia, é ativista da causa indígena e os parentes já a consideram uma liderança, pois seu trabalho é voltado para a causa indígena repercutindo sua luta a nível nacional e em nome dos povos. Marcia é compositora e suas canções são em tupi e em português. Além disso, é poeta e suas poesias são voltadas para a luta indígena, sem estereótipos. Ela participa ainda de um coletivo de mulheres que produzem trabalho audiovisual, operando drone. Neste bate papo com o Sintifrj, feito no Primeiro Encontro Nacional de Mulheres do Sinasefe, realizado em março deste ano, em Brasília, ela fala dos avanços da luta da mulher na aldeia, na cidade, no trabalho e dos problemas que o seu povo ainda enfrenta.

Fale um pouco da sua luta enquanto mulher indígena e dos seus trabalhos:
Temos 30% de mulheres nas editoras de todo o país. Precisamos ocupar esse espaço. Precisamos escrever a nossa realidade, pois não se tem nem 1% de representação da mulher indígena nesse espaço. O meu primeiro livro paguei do meu próprio bolso. Paguei porque eu sabia que isso era necessário para as pessoas conhecerem o meu trabalho. A partir daí, passei a produzir novos livros, mas continuo sem editora. Normalmente, quando a gente chega numa editora, a gente se depara com o preconceito. Sempre falam que o meu, o nosso material não interessa. O indígena quer publicar, quer contribuir para o seu povo e sua terra, pois temos uma sociedade que ainda criminaliza a gente, defende ainda que temos que morrer, que somos preguiçosos, que não trabalhamos, são vários os estereótipos. Por isso, a importância de estar aqui falando da minha luta, divulgando esse trabalho e a minha história.

São altos os índices de violência contra as mulheres no Brasil, fale da importância da luta da mulher indígena neste país:
Nosso país violenta a mulher todos os dias, por isso, é tão importante trabalhos que ressaltam a luta da mulher indígena. São várias as formas de violência contra a mulher indígena, é na agressão física, é na retirada de direitos. Sofremos preconceito dentro da universidade. Questionam a roupa que usamos, o batom que usamos, as unhas pintadas, mas nós podemos ser o que quisermos. O que não queremos é ser objeto do outro.

Fale sobre o comportamento da população diante da sua cultura indígena:
O nosso cocá, por exemplo, não é enfeite, é algo sagrado, assim como o turbante é sagrado para a mulher negra. É como se fosse a coroa de um rei. É a minha coroa!
Quando as pessoas de fora vão até a uma aldeia, elas nos veem como se fossemos safari, tiram fotos da gente. O que não gostamos. Nós, indígenas, entendemos o que é multiculturalidade, respeitamos as mais variadas culturas. O Brasil precisa fornecer a sua própria história, ele negligencia a própria história. Aqui só interessa o que o povo consome, não interessa a cultura… Algo que é completamente diferente do que a gente vive na aldeia.

Para fechar a entrevista, Marcia recitou a poesia abaixo:

BENZEDEIRA

Eu sou filha da mata,
Yara me ensinou a cantar,
Na cuia sagrada a fumaça
Te espero para defumar.

A fumaça espanta energia ruim
Tirada de pedaços de breu secantar,
Um pouco de pó de cumaru,
Equilibra as forças,
Espalha perfume pelo ar.

A fumaça abre o canal
Chama a força ancestral
Pra reviver,
Vem caruana, caruara
Com a força da pajé Kumaruara
Para me benzer.

Salve as benzedeiras,
Salve as curandeiras,
Salve as pajés,
Salve o sagrado!

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