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Histórico do curso ‘Brasil e África em Sala de Aula’

É necessário valorizar espaços que abrem as portas para discussões étnico-raciais no país. Neste mês de novembro, o Sintifrj está produzindo uma série de reportagens e entrevistas sobre o tema. Nesta semana, entrevistamos Ricardo Cesar Rocha da Costa, de 57 anos, docente de Sociologia no Campus São Gonçalo do IFRJ, para mostrar um pouco do histórico do curso de extensão ‘Brasil e África em Sala de Aula’, curso que já chegou a sua 8ª edição. Segundo Ricardo, o objetivo do curso é o de possibilitar um espaço de formação para docentes, estudantes e moradores das regiões vizinhas sobre o campo de estudo das relações étnico-raciais, em consonância com a Lei Nº 10.639, de 09 de janeiro de 2003, que cria a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira” no currículo oficial das redes de ensino. Quer saber mais sobre o curso e como ele funciona? Leia entrevista completa abaixo em nosso site e já se prepare para a abertura das inscrições em 2018:

1 – Qual o histórico do curso e como funciona?

O curso nasceu em 2010 e neste mesmo ano tivemos a sua primeira seleção, com a primeira turma já em 2011. Ele nasceu a partir da organização dos docentes da área de Humanas do campus. Teve como ponto de partida a ideia de ofertar um curso de extensão no início de 2009 intitulado “Brasil e África em Sala de Aula”. O objetivo foi o de contribuir para o processo de implementação efetiva da Lei 10.639/2003, que tornou obrigatório o ensino de histórias e culturas africanas e afro-brasileiras nas instituições de ensino públicas e privadas, em seus diversos níveis.
O interesse pelo curso foi enorme na comunidade (professores, lideranças religiosas e a comunidade em geral). Por isso, oferecemos duas edições do curso nesse mesmo ano e começamos a formatar a proposta da Pós-Graduação. O curso de extensão continua sendo oferecido no campus até hoje, sempre com muita demanda (cerca de 40 vagas anuais foram preenchidas por sorteio público), principalmente por parte de educadores e estudantes de graduação (em especial da UERJ/FFP – Faculdade de Formação de Professores, mas também da UFF). Em 2009, uma das edições do curso contou com mais de 200 horas de duração. De alguns anos para cá fixamos o curso em 81 horas.

2 – Qual a metodologia de aula utilizada e quais os temas que vocês abordam? 

Não existe uma metodologia de aula específica. Cada docente aplica e conduz suas aulas da forma como entendem que é mais interessante. O curso de Especialização tem o seu programa e o seu ementário, apresentando disciplinas fixas ao longo de dois semestres, e uma disciplina que, apesar de também obrigatória como as demais, pode variar na oferta do seu conteúdo, são os “Tópicos Especiais”. O terceiro semestre é reservado para a redação do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), sempre sob a orientação de um dos docentes vinculados à Pós.
Além dos professores do campus São Gonçalo (somos 05, das disciplinas Literatura, História, Artes, Filosofia e Sociologia), o curso de Pós conta com colegas dos campi Arraial do Cabo (dois), Volta Redonda, Nilópolis (dois) e Rio de Janeiro. Há a perspectiva de ampliação da equipe para 2018, com a possível presença de três novos colegas, sendo um do CSG e outros dois lotados em Resende e Pinheiral.
Temas das disciplinas: Educação e relações étnico-raciais. Literatura Africana; Literatura Afro-brasileira; Arte Africana e Afro-brasileira; História da África; Metodologia de Pesquisa… O curso é multidisciplinar, com docentes e disciplinas que compreendem, além das citadas, disciplinas como Filosofia, Sociologia, Geografia e Teoria da Comunicação.

3 – É um curso para alunos e professores do IFRJ ou ele é aberto ao público? Quantos alunos vocês recebem e como fazem a divulgação?

Como é uma especialização, o critério é que o candidato possua uma graduação concluída. Se não me falha a memória, nunca recebemos, nestes sete anos, ex-alunos ou professores do IFRJ. A divulgação é realizada pelo site institucional e por iniciativa dos docentes envolvidos e dos ex-alunos do curso. A inscrição de candidatos reúne entre 50 e 80 concorrentes por ano e são selecionados, após prova, análise de currículo e entrevista, cerca de 20 estudantes para cada turma (sempre uma turma por ano letivo).

4 – Para terminar, fale sobre a importância de um curso este no IFRJ, e o diferencial que ele tem nesta sociedade que ainda vivencia o racismo?

O curso se torna fundamental em função da importância da temática que tem como objetivo principal o combate ao racismo estrutural extremado e arraigado existente em nossa sociedade. Como se vê cotidianamente nas ações políticas e militares de extermínio da população jovem e negra nas periferias das principais cidades do país, com destaque para o Rio de Janeiro (tivemos há poucos dias o episódio da chacina de sete jovens que participavam de um baile funk no bairro Salgueiro, aqui em São Gonçalo), e como temos visto se repetir em diversos episódios recentes que envolvem a mídia (ataques a artistas negros que se destacam na TV, em novelas e telejornalismo; manifestações racistas em jogos de futebol; o comentário racista que afastou um conhecido âncora reacionário da TV Globo, etc.). Numa instituição como o IFRJ, elitista, tecnicista e meritocrática e ainda com o ranço do seu passado recente voltado para formação dita como de “excelência” na área da Química, a existência de um curso como a nossa Especialização é uma trincheira permanente de resistência e de enfrentamento a um quadro bastante adverso em relação à oferta de cursos no campo das Humanas.

O IFRJ – campus São Gonçalo fica na Rua Dr. José Augusto Pereira dos Santos, s/nº – Neves – São Gonçalo. Mais informações podem ser obtidas através do site: http://portal.ifrj.edu.br/oitava-edicao-curso-extensao-brasil-e-africa-sala-aula

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